segunda-feira, 25 de maio de 2009

Cebolenses - 'Bora lá à Terra




cebolenses


bora lá

à terra
do graveto do chamiço
e das torgas
que já não há aos torgais

à terra
de casas senhoriais
imaginadas
planeadas
edificadas
no lugar de matagais

à terra
do cabeço e do outeiro
com pombal
sem pombas a voar
a arrulhar
hu-úúm-hu
e do airoso rodeio
que nun mostra
cmás fitas de cobóis
o laço a sibilar
tsssssssss
prás reses amansar

nun há cows
mas há boys

bora lá

ao ribeiro souto
ca canada e cascalhal
mas sem souto e sem chiqueiro
resta a presa e o ribeiro

o cabeço carvalheiro
e sua filha abesseira
onde a gente sempre passa
como pé em passadeira

não há adro
e ao terreiro falta terra
e espaço
e jogos
e festa
que foi pra capela arejar

arejar
arejar areja um campo
com ar de abandonado
não há golos
sobra mato
terreno para desbravar
a jogar

e outro sem balizas
à portela
onde jogam só os lobos
lobo preto a apitar
iiih ca mau
e o público a uivar
fora o árbitro
auuúúúúúu

bora lá
e se adro já não há
vamos à eira
com sol
mas sem milho pra secar
nem fontanário central
arte poliédrica
que a alguém fazia mal
quem tiver sede
sirva-se da parede

e a tapada destapada
alargada
pra passeio
vivó clube

tornadouro sem en
todo catita
hem
que regalo
um brinco
um asseio
abençoada fontita

com cravos e rosas
mas sem nabos
nem botôlhas
e cabaças
o quintal

e a cruz da rua sem podoa
nem com foices e martelos
fica igual

bem ficam os paralelos
no lugar do passadiço
que levou sumiço
oh o passadiço
que levou sumiço

e a moreira
sem amoreira
perdeu o a
ao cair
prámora não tingir
a veste domingueira

bora lá
à bênção dos velhotes
com saúde pois claro
bênção sincera
pudera

e do senhor prior
que já não é só nosso
o prior
é o que temos
senhor
é pena
o senhor bispo assim o quis
aceitemos

bora lá
à terra
onde nascemos
nossa origem
vossa nossa minha terra
que é onde está a morcela a chouriça
a pica a goleima
e a matança do porco
oinc oooiiinnnc
carne fresca à farta
corta ali mais dali
há fritada
hoje

e o leite no cincho
a coalhar
corre o soro o soro escorre
já não esbarriga
bota prá barriga
agora é queijo
fresco
queijo de cabra

no fresco da loja
onde a adega a pipa
o xquen o txiq o tonh o frëd
grandes companheiros
homens grandes
francos

é a magia de receber
a beber a comer sem talher
dar a receber
receber a dar

é partilhar
é amizade
é calar a saudade

o presunto já quase no osso
quase dói
e como por encanto
já outro além ao canto
espera o canivete
que também corta a broa
o canivete

e a malga cheia
numa rodada
à roda da pipa
da pipa que já roda

bota bota
enche enche
boa pinga dizem todos
se não é fica a ser
nome de crisma
boa

é du më bacelit da cerdera
cuns pezits das aradas
e du val da colhör
pro ano vai ser melhor
aposto

bora lá
à terra
da costa sem mouro
sem ouro
sem castelo
onde o sete do zodíaco balançou

e em estranha dança
pairou
olhou
parou
sortilégio de balança
calhou

e
assim nasceu
medrou amou
sofreu suou
um pelintra como eu



constantino braz figueiredo



Sem comentários:

Enviar um comentário